Citação:
"Ele não queria compor outro Quixote - o que seria fácil - mas o Quixote. Inútil acrescentar que nunca levou em conta uma transcrição mecânica do original; não se propunha copiá-lo. Sua admirável ambição era produzir páginas que coincidissem - palavra por palavra e linha por linha - com as de Miguel de Cervantes." J. L. Borges, em Pierre Menard, autor de Quixote.
"La candente mañana de febrero en que Beatriz Viterbo murió, después de una imperioso agonía que no se rebajó un solo instante ni al sentimentalismo ni al miedo, noté que las carteleras de fierro de la Plaza Constitución habían renovado no sé qué aviso de cegarrillos rubios; el hecho me dolió, pues comprendí que el incesante y vasto universo ya se apartava de ella y que ese cambio era el primero de una serie infinita.", J. L. Borges, em El Aleph.
Resumos:
Pierre Menard, autor de Quixote
Lançado em 1939, o conto fala do autor francês Pierre Menard que decide escrever o Dom Quixote. Não uma paródia, não uma versão atual, nem o personagem em uma situação adversa, em outro tempo, espeço, Pierre Menard quer escrever o livro Dom Quixote de la Mancha tal qual escrito por Cervantes. O texto lembra um ensaio, no começa enumerando textos produzidos pelo autor Pierre Menard, ao reclamar de uma publicação que enumerou erroneamente a obra de Pierre. O conto cita Leibniz em suas contribuições filosóficas de linguagens universais para a fala de conhecimentos científicos, indo ao cerne do conto que é a leitura e a crítica. O objetivo do autor se revela inalcançável ao deparar-se com a impossibilidade de reescrever o Quixote dadas os fatos históricos ocorridos desde a escrita do livro, incluindo a própria escrita do Quixote como grande influência na literatura mundial.
O Aleph
O conto começa com a descrição de Borges as visitas que fazia ao irmão de Beatriz, depois da morte da mesma. As visitas a Carlos Argentino eram feitas todo ano no dia 30 de abril. Em todas as visitas costumava ficar de 25 a 30 minutos, a cada chegando um pouco mais tarde, ficando um pouco mais, levando alfajores, um conhaque. Um dia, esse irmão chama Borges para seu gabinete, para mostrar uma série de poesias que havia escrito, o primeiro se chama a Terra. Borges faz, então, uma crítica ao poema, descrevendo cada linha como uma influência de vários séculos de estudiosos e como cada linha tentava agradar um certo leitor, onde aparece a frase: "Comprendí que el trabajo del poeta no estaba en la invención de razones para que la poesia fuera admirable". O poema tinha a pretensão de descrever toda a terra, o autor já havia percorrido algumas regiões, que são mostrados em alguns trechos. Os dois se tornam amigos, se encontram em um bar e conversam sobre alterações que o autor faz em seus poemas, palavras que considera feias, são trocadas. Um dia Borges recebe a notícia que a casa de Carlos Argentino seria demolida, Carlos diz que para terminar o poema necessita da casa, pois ele conteria um Aleph. O Aleph seria a união de todos os pontos do mundo, localizado em um baú no sótão. Borges acredita que Carlos ficou louco, com toda essa história de Aleph, mas ele é convidado para conhecer-lo. Ao chegar no sótão Borges pensa que Carlos poderia matar-lo caso se confirmasse sua loucura. Entretanto ao ver o baú, Borges se depara com o Aleph. Borges explica a dificuldade de descrever o Aleph, mas diz ser uma esfera de dois ou três centímetros, que dá a impressão de girar, devido aos espetáculos que ali se reproduziam. No Aleph é possível ver tudo que existe no mundo de diferentes ângulos, infinitas coisas. Borges se despede de Carlos, que meses depois lança seu livro de poemas, recebendo o Premio Nacional de Literatura pelo livro. Borges, seu concorrente, não havia recebido um único voto. Borges nega acreditar que aquele era o verdadeiro Aleph, dá argumentos da existência de outros, e se pergunta se o próprio Aleph não teria mostrado a existência de outros e de como tudo que ele imagina a partir de então não seria influenciado pelo que viu no Aleph.
Curiosidades:
- Depois de sofrer um acidente, Borges passa por alguns dias no hospital, onde resolve investir em outro tipo de literatura, a literatura fantástica, cujo primeiro conto escrito por ele é Pierre Menard.
- Borges fez uma viagem ao sul do Brasil onde conheceu a tradição dos gaúchos, que ele só havia lido em livros de escritores argentinos e que ele mesmo considerava folclórico.
- Borges passou mais de 30 anos cego, no final de vida, mesmo assim continuou publicando livros, já que contava com a ajuda de sua esposa e amigos.
Opinião:
Borges causa um estranhamento no começo da leitura, ele nos mostra um universo real em que coisas fantásticas passam a acontecer. Quando o próprio universo não passa a ser fantasioso são os personagens que almejam coisas impossíveis de serem alcançadas, como reescrever o Quixote, como fazer uma poesia que descreveria toda a Terra, como nomear todas as coisas e tê-las em sua memória. O universo de Borges é muito rico, sabendo que nada que Borges escreve é por acaso, a leitura tem que ser muito cuidadosa ou ainda com auxílio de textos externos. Apesar da dificuldade de adentrar o universo de Borges, é impossível dizer que somos os mesmos depois que acabamos a leitura dele.
0 comentários:
Postar um comentário